As primeiras referências ao território que é hoje Alfena, remontam à pré-história, embora não haja registo de quaisquer dados arqueológicos concretos, tudo leva a supor que por aqui tivessem passado populações nos finais do Neolítico.
Estas referências assentam na arqueo-toponímia local, já devidamente assinalada na obra “ Alfena, a terra e o seu povo ”, na qual o Pe. Domingos A. Moreira diz que a Chancelaria de D. Dinis, faz alusão à existência de três “mamoas” neste território.
Embora seja apenas um indício documental, deve ser levado em linha de conta porque este tipo de monumento, enquadra-se no complexo fenómeno megalítico da fachada atlântica peninsular.
Sobre o período Romano encontramos um conjunto de referências, nomeadamente, sobre a existência de vestígios de antigas fortificações e grandes fossos, nos montes que rodeiam a freguesia, vestígios esses que indiciam ter-se extraído grande quantidade de metais.
Também a designada Ponte do Arquinho, é hoje um testemunho importante sobre a ocupação romana deste território.
O documento mais antigo referente a Alfena data de 1214 (cujo original se encontra no Arquivo Distrital de Braga) e nele, D. Etefanina (Estevainha), cita os “ Leprosis de Alfena et le Leprosis Portugali” (Domingos A. Moreira e Nuno Cardoso, 1973).
Este documento faz alusão a uma gafaria (hospital para leprosos), que se localizava no Lugar de Alfena, hoje Lugar da Rua.
Segundo alguns historiadores, o topónimo Alfena prevaleceu sobre São Vicente da Queimadela, devido precisamente à importância do hospital de leprosos e que terá tornado esta terra conhecida em todo o Portugal.
A associação do nome antigo e o actual surge paulatinamente: em 1307, a inquirição de D. Dinis apontava a freguesia de “Sam Vicente da Queimadella ou Paaço dalffena” e, no Censual de 1542, do bispo do Porto aparece “a igreja de Sam Vicente de Alfena de Queimadela”.
Devido à gafaria pôde Alfena beneficiar de privilégios concedidos pelo rei, benesses que foram atraindo as populações que para aqui vieram viver e construir as suas habitações, nomeadamente, a isenção do pagamento de tributos ao rei.
Neste local subsistem vestígios medievais e aos quais se referem os investigadores: O medievalista Carlos Ferreira de Almeida, descreve um interessante conjunto medieval – a estrada, ponte de São Lázaro, capela e a já referida leprosaria.
Este investigador realça a importância do eixo viário de Alfena, na remota ligação entre as urbes do Porto e Guimarães.
Em sua opinião, seria até provável que a mesma via correspondesse à reconstrução doutra anterior, edificada na época romana.
O dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso, retrata a freguesia, com campos férteis e irrigados pelo rio Leça, e atravessada por uma movimentada rua que liga Porto – Guimarães.
Um precioso monumento da baixa Idade Média subsiste ainda, a demarcar este trajecto: a ponte românica de São Lázaro.
Domingos A. Moreira, traçar-lhe-ia posteriormente um hipotético mas detalhado percurso, balizado entre Ermesinde, Reguengo, Cabeda, Trás do Casal e Santeiros (atravessando aí o pequeno ribeiro de Azevido), prosseguindo então pelas imediações da Igreja Matriz, pela antiga Rua e Ferraria, Outeirinho e daí Água Longa (Santo Tirso).
Existem testemunhos documentais sobre a existência de duas capelas: uma situada à entrada da ponte, do lado que procede do Porto, denominada a capela da ponte ou da Senhora dos Remédios e uma outra, à saída da ponte denominada de São Lázaro.
Em 1623 são ambas citadas por D. Rodrigo da Cunha “… Ermidas, nossa Senhora da Põte, nossa Senhora de Lessa, S. Lázaro, S. Roque…”
A primeira infelizmente desapareceu e a segunda recorda ainda, até pela sua própria designação, um antiquíssimo culto relacionado com o desaparecido lazareto.
A gafaria de Alfena notabilizar-se-ia pela sua longevidade, pois ainda na segunda metade do século XIX, Pinho Leal, no seu “Portugal Antigo e Moderno”, lhe fazia menção da seguinte forma “Há nesta freguesia um hospital para quatro lázaros, do qual foi administrador João Pinto Coelho …”
A antiga Igreja Paroquial data de finais do século XVII e era assim descrita em 1747, no Dicionário Geográfico do Pe. Luís Cardoso:
“A Igreja matriz é dedicada a S. Vicente Mártir, está situada ao pé de um monte chamado vulgarmente a Serra ou Outeiro de Santa Margarida, fora da povoação, e quase no meio das demarcações da freguesia…
Tem esta igreja cinco altares, o maior onde está colocado o Santíssimo com a sua Confraria; para a parte do Evangelho a imagem do padroeiro, S. Vicente, e da Epístola Santa Luzia. O colateral da mesma parte da Epístola( lado sul, o Evangelho é do lado Norte nesta igreja colocada de poente para nascente) é de S. João e Santa Ana; e o da parte do Eavngelho é dedicado a Nossa Senhora do Rosário.
Tem mais outros dois altares, um de Santo António e outro de Santa Catarina, que ficam na mesma correspondência metidos em dois arcos do corpo da igreja. É esta de uma só nave muito antiga, e pequena, para a gente da freguesia…”
Em 1884, beneficia de obras de reformulação, porque os Alfenenses a queriam mais bela, ampla e funcional.
A igreja então restaurada e reformulada foi o edifício que em 1970, foi demolido, à excepção da Capela Mor com o seu arco cruzeiro. Foi substituída pelo actual complexo Paroquial.
Breves Questões Administrativas
“As primeiras notícias documentais de S. Vicente de Queimadela (Alfena), integram esta freguesia na “terra” e Julgado da Maia.
O foral de D. Manuel (1519) às terras da Maia, releva a importância desta localidade, porque tinha o privilégio de ser julgado independente.
Em 1836, Alfena passa a pertencer ao recém-criado Concelho de Valongo, depois de nova divisão administrativa, implementada por D. Maria II e legislada por Mouzinho da Silveira.
A freguesia de Alfena acolhe em 1838, por um breve período de tempo a Câmara Municipal de Valongo na Quinta da D. Helena, devido a algumas revoluções de carácter “administrativo”, motivadas pelo desentendimento entre os seus vereadores, que se travaram de razões e deixaram de reunir em Valongo por questões de segurança.
Alfena foi elevada à categoria de Vila, em reunião plenária de 30 de Junho de 1989, da Assembleia da Republica Portuguesa.
É hoje uma Vila próspera, singular no seu nome e na forma de estar das suas gentes, capaz de fazer a simbiose entre o rural e o urbano, o passado e o presente, qualidades que permitem augurar um futuro auspicioso para este território já secular.